A erva-mate, base de uma das bebidas mais populares do sul do Brasil, o chimarrão, pode ser um poderoso aliado no combate à aterosclerose, de acordo com os resultados da pesquisa realizada pelo professor da UFSC, Edson Luiz da Silva. Em sua tese de pós-doutorado, realizada na USP, Silva estudou as causas da aterosclerose - doença resultante da oxidação da gordura LDL e seu conseqüente depósito nas artérias – e constatou que a introdução de compostos antioxidantes poderia prevenir ou reverter os efeitos da doença. E a erva-mate tem antioxidantes de sobra.
Das diversas substâncias, os flavonóides e outros polifenóis são os mais ativos, embora os compostos polifenólicos, como o ácido clorogênico e o ácido gálico, e as saponinas, encontrem-se em maior concentração na erva-mate. A maioria delas podem ser encontradas também outros tipos de vegetais, como o vinho tinto, a cebola, a maçã e o chá verde ou preto - todos ricos em flavonóides -, enquanto o café contém grande quantidade de ácido clorogênico. “No entanto, o que faz da erva-mate uma espécie vegetal única é a grande quantidade de compostos atuando de forma sinergística – em conjunto - para a prevenção de doenças”, afirma o professor.
Silva já vinha pesquisando o efeito antioxidante dos flavonóides desde 98, quando concluiu seu pós-doutorado e veio lecionar na UFSC. Mas foi orientando a mestranda Ana Luiza Mosimann que a erva-mate entrou em questão. Segundo o professor, a pesquisa não foi fácil, por falta de infra-estrutura na UFSC para manter os coelhos durante o período experimental. Estes receberam uma dieta rica em colesterol, sendo então separados em dois grupos: um recebendo apenas água e outro um extrato aquoso de erva-mate. Dois meses depois, verificou-se que os coelhos que ingeriram mate tiveram um acúmulo 50% menor de placas de gordura na aorta.
“Assim, concluiu-se que a erva-mate pode inibir a progressão da aterosclerose por manter a atividade das artérias em bom funcionamento”, garante o professor.
Em sua dissertação de mestrado defendida recentemente, a pesquisadora Regina Felippi também demonstrou que o mate pode melhorar a reatividade vascular da aorta dos camundongos doentes. A reatividade – capacidade de contração e relaxamento das artérias, indispensável para o envio do sangue do coração para os órgãos –, acaba prejudicada em animais com aterosclerose. Um próximo passo seria a verificação deste progresso em humanos, o que já tem sido feito de forma simplificada.
Silva testou, em sua pesquisa na USP, o efeito do mate num pequeno grupo de seres humanos. Doze voluntários tiveram mostras de sangue analisadas antes e depois da ingestão de 500ml de chimarrão. Na comparação, observou-se uma significativa redução das atividades oxidantes, tanto no plasma sanguíneo quanto na LDL isolada.
Segundo Silva, a pesquisa avançará este ano com um número maior de voluntários, particularmente pacientes com concentração elevada de colesterol no sangue e que apresentam um risco elevado para o desenvolvimento da doença. Durante dois anos, será verificada a capacidade do mate de reduzir os níveis de colesterol em pacientes com aterosclerose. “Esse efeito poderá ocorrer pela presença das saponinas da erva-mate, as quais possuem a capacidade de inibir a absorção intestinal do colesterol”, adianta o professor, que espera que novas faculdades positivas do mate sejam descobertas.
Mas é importante fazer uma ressalva. Segundo o professor, alguns estudos apontaram a incidência de câncer de boca, esôfago e laringe em decorrência da ingestão de chimarrão com água extremamente quente. “Assim, prefiro recomendar o uso da erva-mate como infusão, da mesma forma que se preparam outros tipos de chás, ou na forma de tererê (com água fria)”, sugere Silva. Outra alternativa é a utilização da erva-mate em cápsulas, como suplemento alimentar ou fitoterápico.
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http://www.agecom.ufsc.br/index.php?secao=arq&id=2891